segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ANÁLISE - “A menina que Chiava.” Maria de Lourdes Elias Pinheiro.

ANÁLISE -  APENDICE F – “A menina que Chiava.”Maria de Lourdes Elias Pinheiro.

                                                                       Por Alis Minervin.

O presente trabalho busca traçar uma analogia do APENDICE F – “A menina que Chiava” de Maria de Lourdes Elias Pinheiro. Debulhando-se a partir de um olhar psicanalítico observando a estrutura do sujeito. Entretanto de forma concisa e breve. 

ANÁLISE - I

 Pontuações:  Olhar do profissional que acompanhou o caso.

 Uma criança de oito anos que iniciou o tratamento em fevereiro/2000 aos sete anos, com frequência semanal e assiduidade. Foi encaminhada por sua pediatra, com um bilhete: Percebi dados significativos em sua história que parecem indicar conflitos emocionais. A asma brônquica não sede com medicação.
Os pais de Tais se casaram quando ainda eram adolescentes ( 17 e 18 anos) e ela filha única. Aos três anos, seus pais se separaram ( por dois anos). Neste período ela adoeceu..
O casamento dos pais foi retomado por ocasião da morte de sua avó materna, com quem moravam anteriormente.
O pai também é asmático desde a adolescência, quando seus próprios pais se separaram. Desde então, ele é o “filho que cuidou da mãe”, também asmática. Segundo conta, ela morreu em decorrência disso, “chiando” Tais era muito ligada a ela porque a mãe trabalhava o dia todo e, na época de sua morte, “sentiu demais”, “chorou como adulto”, teve crises seguidas de asma.
A mãe de Taís se diz muito angustiada com a situação atual da filha, que a “impede” de retornar ao trabalho. Taís pede que ela não saia de casa agarra-se nela, chorando e se a situação persistir e  ela sai, Taís “passa mal chia dias seguidos, não deixa ninguém dormir. “ O marido a culpa pelas “crises” da menina e não acha que ela deve insistir em sair, nem trabalhar fora. Diz que “lugar de mãe e  em casa, com os filhos”. Ela trabalha próximo a Belo horizonte, e acha que o seu salario é suficiente. Sai bem cedo, e quando retorna quase sempre Tais já esta dormindo. Ele telefona para ela cinco a seis vezes por dia e se demora um pouco mais ela se preocupa e telefona para ele.
Atualmente o casal não tem se dado muito bem, porque o pai de Tais chamou seu próprio pai para morar com eles alegando que ele poderia ajudar financeiramente. A mãe quer se mudar quer que Tais tenha um quarto só para ela , acha ruim que ela durma no quarto do casal (...tira a liberdade”, aquestao da sexualidade do casal em jogo). Já nas entrevistas com os pais, a angustia materna pode ser trabalhada, havendo uma “retificação subjetiva “que a mãe se da conta de que se sente “aprisionada, sufocada pela situação”, e que mais que Tais é o marido que a sufoca. Diz que ele é ciumento demais mas não assume.”( noto que ele fica extremamente irritado com essa colocação  e a nega veementemente. Há que dizer que ele é negro, e ela faz um tipo mais mestiços, mais clara muito bonita.) A situação entre as entrevistas é difícil porque o pai toma uma posição defensiva, sente-se ameaçado. Pois isso num primeiro momento, trabalho com o discurso (significante). Materno, remetendo-a as questões do seu “estar aprisionada”, “sufocada”.
O pai de Tais se refere a chieira. Ele chia, a mãe chiava; Tais também chia porque é coisa de família. Concordo com ele com essa coisa de família não tem escolha se não chiar.
Venho atendendo aos pais em intervalos variáveis, acompanhando o processo terapêutico de Tais. Seu pai continua fechado ao processo, principalmente porque mudança vem ocorrendo fora do seu controle – sua mulher voltou a trabalhar em horário integral; Tais esta muito bem de saúde, há tempo tendo retirado qualquer medicação.  Inclusive recomenda a ela que faca um trabalho com um psicólogo para aprender a “chiar de outro jeito.”
Essa fragilidade da função paterna mais do que o próprio pai – é o que vem sendo questão para Tais nesse momento de sua analise, fazendo-a oscilar em suas escolhas identificatórias.

As principais características do caso estudado:

OBS.  01
- Psicossomatização   - Asma brônquica;  o ataque asmático constitui, na criança, perpetuando-se no inconsciente do adulto, uma reação ao perigo que representa a separação da mãe ou à perda real do amor materno.

↳ “A asma brônquica não sede com medicação”.
↳ “ Separação dos pais aos 3 anos..”
↳ OBS.: Pai de Tais iniciou suas crises (chiar) na adolescência após separação dos pais. 
↳ O qual ficou com responsabilidade dos cuidados com a mãe que também “chiava.”
↳ Perda avó materna que durante todo dia cuidava dela. A mãe trabalhava o dia inteiro. Tais teve crises seguidas durante dias. 

“Tais pede que ela não saia de casa agarra-se nela, chorando e se a situação persistir e  ela sai, Taís “passa mal chia dias seguidos, não deixa ninguém dormir.

Ganho secundário Refere-se a benefícios que um transtorno ou doença pode fornecer ao paciente que possa justificar o desejo do paciente em continuar doente. Exemplos de benefícios comuns em continuar doente são a maior atenção de amigos e parentes, a diminuição das responsabilidades. 

“Tais agora  passa a chiar para mãe”.

OBS. 2
Após morte materna... “porque o pai de Tais chamou seu próprio pai para morar com eles alegando que ele poderia ajudar financeiramente”.
Mecanismo de defesa racionalização:...alegando que ele poderia ajudar financeiramente.
Substitui objeto , por figura representativa: Após morte materna... “o pai de Tais chamou seu próprio pai para morar com ele”.

                 MÃE   ⍖   PAI

                  VÍNCULOS

 Freud (1921/1996, p. 117) resume esse processo dizendo que, [...] Primeiro, a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto; segundo, de maneira regressiva, ela se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por assim dizer, por meio de introjeção do objeto no ego; e, terceiro, pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem sucedida pode tornar-se essa identificação parcial, podendo representar assim o início de um novo laço.
Mecanismo de defesa racionalização: Justificativa: ...alegando que ele poderia ajudar financeiramente.

OBS. 3
Perigo da  cena primaria: Trata-se da criança interpretação dada pela criança  ao presenciar com uma relação sexual parental. O caráter traumático dar-se pelo fato da mesma não ter condições de codificar o que observa e ser levada a interpretar o evento como sendo de caráter violento ou agressivo. Podendo acarretar problemas de ordem sexuais no futuro.
Mencionado por mãe de Tais ...acha ruim que ela durma no quarto do casal (...tira a liberdade”, a questão da sexualidade do casal em jogo).
Pesadelo narrado por Tais: “As minhocas para pescar do meu avô estavam crescendo, se transformando em monstros. Ou estava andando no muro muito alto cheio de agua...Acho que alguém tinha morrido e o fantasma tinha uma maquina para me encontrar...”
Sonho simbolismo – Lembrança inconsciente da Cena primaria. Desejo inconsciente pelo pai, “minhoca” – pode representar órgão genital masculino – PAI.
“...Cheio de água...” – Remete a vida uterina, representação materna, morte da mãe, esta  representa ameaça  ao amor do pai.
Relaciona-se ao complexo de édipo; fase no desenvolvimento infantil em que existe uma “disputa” entre a criança e o progenitor do mesmo sexo pelo amor do progenitor do sexo oposto.
...”O fantasma tinha uma maquina para entrar em mim...” Necessidade de aprovação paterna, chamar atenção para si. Também relacionado ao complexo de édipo. 


OBS. 4
“Mãe de Tais - Sente “aprisionada, sufocada pela situação”, e que mais que Tais é o marido que a sufoca. Diz que ele é ciumento demais mas não assume.”( noto que ele fica extremamente irritado com essa colocação  e a nega veementemente. Há que dizer que ele é negro, e ela faz um tipo mais mestiços, mais clara muito bonita.)”
Tais ..”.Mas eu não quero ficar da cor dele ainda bem que puxei a cor da minha mãe..”.
Sentimento baixa auto estima paterna / Tais - Associa-se como foi trabalhado os estímulos ao filho pelos pais na infância. Algumas características observadas: Insegurança, comparações, baixa estima, medo, dificuldade de processar perdas, necessidade de aprovação entre outros.
Uso de alguns mecanismo de defesa do ego: “...Seu pai continua fechado ao processo”(Deslocamento
“...principalmente porque mudança vem ocorrendo fora do seu controle.”

OBS.5
Resignificar - Atribuir novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo. O significado de todo acontecimento depende do filtro pelo qual o vemos. Quando mudamos o filtro, mudamos o significado do acontecimento, e a isso se chama ressignificar, ou seja, modificar o filtro pelo qual uma pessoa percebe os acontecimentos a fim de alterar o significado desse acontecimento. quando o significado se modifica, as respostas e comportamentos da pessoa também se modificam.
Observou-se também que foi somatizado por Tais  muito do adoecimento paterno (os vínculos). Ao ressignificar, reelaborar e compreender os fatos e traumas vivenciados. Taís sugere ao Pai :
 “...chiar de outro jeito.” ( Buscar acompanhamento profissional).

Ressignificar: “Revivemos, repensamos e agora, ressignificamos. Damos nova cor ao que passou nova vida, novo significado, enfim. O medo transforma-se em coragem, a vontade de fugir em vontade de correr, a raiva em (novo) amor.” (http://cotidianoepsicologia.blogspot.com.br).



         Temática do Seminário Psicossomatizacão. 

As contribuições da psicanálise para a teoria psicossomática são valiosas, no sentido de que qualquer que seja o momento de sua elaboração, a teoria psicossomática permanece estreitamente ligada à psicopatologia e mais especificamente à noção de psiconeurose. Nesse contexto, podemos destacar a relevância dos benefícios que a visão psicossomática trouxe para a compreensão dos pacientes somatizadores. Auxiliando os profissionais das mais diversas áreas da saúde o entendimento da etiologia das doenças psicossomáticas, dos pacientes e das queixas trazidas pelos mesmos. O estudo mais moderno da psicossomática apresenta uma visão integrada, ou seja, um olhar voltado para o indivíduo e não á doença.

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Antes de “curar” alguém, pergunte se ele está disposto a desistir das coisas que o deixaram doente".

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